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terça-feira, 15 de maio de 2012

Currículo Adicto

     O bom currículo pode abrir muitas portas, mas não as mantem abertas. O currículo é apenas um parâmetro de avaliação do profissional. Óbvio que as realizações profissionais prévias são muito importantes, isso é indiscutível; porém, currículo cheio não é sinônimo de boa formação. O que vem acontecendo nas faculdades é que me intriga... Uma compulsão coletiva por currículos abarrotados de “feitos” inúteis para a formação. Claro que é preciso avaliar, de alguma forma, a performance do aluno, mas acrescentar opções mais inteligentes e práticas poderia ser discutido.

      Saber a teoria é tão importante quanto a relação com o paciente. Na faculdade, avaliações de condutas deveriam ser mais frequentes, valorizadas e estimuladas, embora sejam intangíveis. Cabe ao professor equilibrar a formação técnica e a humana, ambas importantes. Nenhuma das duas se esgota nunca. A formação técnica é mais avaliada porque existem fatores tangíveis para mensurá-la, como presença, provas, arguições e trabalhos. A formação humana dificilmente é avaliada e trabalhada, formalmente, durante o curso. O aluno completamente descompensado emocionalmente e “bom de prova” entra, com facilidade, no mercado de trabalho.

     O profissional de saúde precisa aprender a lidar é com gente. Saber escutar, falar na hora certa, ajudar o próximo, reconhecer suas fraquezas, desenvolver a empatia, praticar a paciência e controlar a impulsividade e o imediatismo são bem mais importantes que uma avaliação, na minha opinião. O inverso também é verdadeiro. Conheço inúmeros profissionais excepcionais nas relações interpessoais, mas muito fracos tecnicamente. Esses também não se sustentam. O conhecimento é fundamental para uma prática segura e eficaz.

    A formação humana exige excelentes professores, maduros e experientes. Geralmente, atinge-se esse grau com o tempo. Infelizmente, o Brasil ainda não aprendeu a valorizar os seus professores, em nenhum grau de ensino, seja no maternal ou no doutorado. Formar, manter e valorizar o professor vem se tornando um trabalho cada dia mais difícil. A nossa educação é reflexo direto dos nossos pais, em primeiro lugar, e dos nossos professores. Sucatear a educação é banalizar o futuro.

     O caminho que já está sendo trilhado, pautado na formação técnica excessiva, nos levará, inexoravelmente, para uma sociedade fria, cara e infeliz. Não sentir desconforto com o desconforto próximo é preocupante. Não precisamos humanizar a medicina e sim, a educação das próximas gerações.

     Para finalizar, uma frase do professor Luiz Otávio Savassi Rocha, ilustríssimo patrono da minha turma: "Humanizar a medicina é igual vegetalizar a botânica!"

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