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terça-feira, 8 de maio de 2012

Automedicação: Não é só um Remedinho...


     Ontem fui convidado para falar sobre automedicação e, ao matutar sobre o tema, percebi que os pouco mais de seis minutos foram pouco para passar o que realmente penso e enxergo sobre este tão delicado tema. Sendo assim, hoje divagarei um pouco mais...

  No Brasil, a automedicação é uma rotina endêmica, perigosa e subvalorizada. Inúmeros motivos levam uma pessoa leiga, e até profissionais de saúde, a utilizarem medicações que pouco conhecem em situações de falsa certeza absoluta. Não discutirei diagnósticos, e sim cinco motivos da automedicação.

1.   Atenção primária subvalorizada em detrimento de uma política de saúde voltada para o tratamento, e não para a prevenção. A dificuldade para marcar uma consulta clínica em consultório é um dos principais motivos para a automedicação. O paciente não consegue marcar com um médico no consultório, não tem possibilidade de enfrentar uma fila de 5 horas no pronto-socorro...
2.   Controle inefetivo e ineficaz das vendas de medicamentos. Falta atitude política. A venda sem receita médica, por mais simples que possa parecer, é uma rotina perigosa. A proibição da venda de antibióticos sem receita foi um avanço indiscutível, tanto cultural quanto bacteriológico, da nossa sociedade. Defendo a proibição de venda sem receita para todos os medicamentos. O médico precisa estar perto do paciente, principalmente, para controlar um quadro de saúde, aparentemente simples, que pode se complicar.
3.  Cultura da Sapiência em Saúde alimentada pelo “colega” Dr.Google. Informação fácil, sem formação, não é saber. Realmente considero extremamente fácil prescrever um analgésico simples; entretanto, saber se é realmente dele que o paciente precisa, exige formação, e não só informação. Lembrem-se que o paracetamol, considerado inofensivo por muitos, é um dos maiores causadores de transplante de fígado nos Estados Unidos. Os anti-inflamatórios, utilizados indiscriminadamente até por médicos, podem levar a insuficiência renal aguda com necessidade, inclusive, de hemodiálise. Uma dor na “boca do estômago” pode ser uma indisposição gástrica, fome ou um infarto do coração.
4.  Perda de “respeito” com a doença. Quando somos acometidos por qualquer doença, tendemos a banalizá-la. Postergar a ida ao médico é característica da maioria dos brasileiros. Tentar melhorar com um remedinho antes de procurar o médico é muito comum.
5.     O lucro fala mais alto que a razão. Propagandas de medicamentos para o público leigo deveriam ser, terminantemente, proibidas. As evidências científicas são “escondidas” em detrimento de ganhos financeiros. O bem estar do paciente passa para o segundo plano e isso é muito perigoso. A utilização de ferramentas poderosas de marketing para vender medicamentos deveria começar a ser discutida de maneira mais transparente e menos remunerada.

     Era isso, por enquanto...
     Assistam a entrevista de ontem clicando aqui.

2 comentários:

  1. Breno,

    Acrescentaria um outro problema: um país que não está preparado para cuidar de condições crônicas. O país está envelhecendo, e os subsistemas público e privado de saúde estão desenhados para cuidar de doenças agudas. Pior: com Manchester na Atenção Primária!

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  2. Breno,
    Concordo contigo em tudo e acrescentaria que também deveriam ser proibidas as viagens e por que não dizer, verdadeiras orgias, exclusivas para médicos, pagas pela indústria farmacêutica. Além disso, sabe-se que professores de faculdades de medicina também ganham dinheiro dessas mesmas indústrias por fora, para "ensinarem" seus alunos receitarem seus medicamentos.

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