Quem sou eu

terça-feira, 27 de março de 2012

Escutando com os Olhos

“Escuta e serás sábio.
O começo da sabedoria é o silêncio.”
Pitágoras

        Diariamente estaciono meu carro perto do hospital e vou caminhando. Próximo ao Felício Rocho, em Belo Horizonte, existe uma escola muito especial, o Instituto São Rafael. Os transeuntes da Av. do Contorno com Av. Augusto de Lima, frequentemente encontram grupos de jovens com deficiência auditiva conversando em Libras (Linguagem Brasileira de Sinais).

    As conversas são recheadas de gestos, expressões faciais, gargalhadas e uma característica principal, a atenção redobrada com o próximo. Eles, literalmente, escutam com os olhos. Aprendem, desde cedo, a observar, atentamente, seu interlocutor. A intensidade do olhar é impressionante. A percepção da linguagem corporal é, certamente, muito mais aguçada. Sem sons, a atenção precisa ser triplicada na comunicação.

      Ao trazer esta experiência para o nosso cotidiano, vejo que deveríamos aprender muito com os deficientes auditivos. A lição principal: escutar (observar) mais que falar. Esta, sem dúvida alguma, é a principal característica dos mais sábios. Atualmente, conversa-se sem olhar no olho. O comum é ter milhares de “amigos” virtuais e nenhum real. Falta atenção com o próximo e sobra egocentrismo. Olhar de cima tornou-se uma praga nas relações humanas modernas. Informação fácil engordando o ego e emagrecendo o respeito com o próximo.

     Já cansei de dizer neste blog que a comunicação é o calcanhar de Aquiles de qualquer instituição de saúde. Repetindo a frase do saudoso Dr. Júlio Arantes Sanderson de Queiróz, de Aiuruoca-MG: “Repito por falta de imaginação e por convicção”. Precisamos nos comunicar melhor. Conversa virtual é excelente para documentar, mas péssima para resolver as coisas. Mandar um e-mail evidenciando um problema e “lavar as mãos” virou mania. Poucos assumem o problema. Assumir, neste caso, é resolver ou, no mínimo, tentar resolver.

      Tenho certeza que uma conversa “ao vivo” de 3 minutos resolve mais que 30 e-mails. Certa vez, nos deparamos com um problema de faturamento que se arrastava por vários meses. A solução encontrada? Apresentar as duas responsáveis que só se conheciam por e-mail, apesar de trabalharem em salas muito próximas. Em poucos minutos resolveram o problema. A conversa escrita, por mais detalhada e cuidadosa que seja, jamais substituirá a conversa olho-a-olho. Vide as grandes negociações que são seladas sempre com o encontro das duas partes.

       Das conversas silenciosas dos deficientes auditivos tirei duas lições: para aprender não é necessário falar e para se comunicar, efetivamente, é preciso ver.

terça-feira, 20 de março de 2012

Dudu do Cavaco: Minha Homenagem

         
     Gostaria de aproveitar o Dia Internacional da Síndrome de Down, comemorado amanhã, dia 21/03, para homenagear meu primo, Dudu do Cavaco. Antes, mostrava seu talento nas festas da família, hoje, já o mostra em rede nacional (vide TV Xuxa, do último sábado). Há alguns meses, por iniciativa do Léo, irmão do Dudu, foi lançado o Projeto Mano Down. O objetivo principal é o de ver o Dudu feliz, fazendo aquilo que ele gosta e sabe: música. Transformar um sonho em realidade é tarefa árdua. Meus primos-irmãos estão conseguindo. A mistura de afeto, cumplicidade, respeito e vontade são os ingredientes principais deste projeto maravilhoso que vem envolvendo toda nossa família e a sociedade. Veja a programação do Dia Internacional da Síndrome de Down em Belo Horizonte no site www.manodown.com.br 
         No texto abaixo, publicado no livro Mano Down pela Editora São Jerônimo, falo um pouquinho do que vejo quando olho para o Dudu...

         "Eduardo Gontijo Vieira Gomes, nosso Dudu, ou simplesmente, Du. No início, o seu nascimento gerou medo, incertezas e inseguranças. Com muito pouco tempo, notamos que o Du foi o melhor presente para toda nossa família. Lá em casa, desde os primeiros dias, sempre foi uma criança normal.
         O Du é sentimento puro. Sentimento bom. Amor infinito e de graça. É lição de carinho, delicadeza, sensibilidade e cumplicidade. Um abraço com um sorriso sincero é a sua principal arma de conquista. Sempre desarmado e sem segundas intenções, cativa qualquer pessoa com uma naturalidade impressionante. Pureza pura nas atitudes do dia-a-dia. Ensinou-nos a falar “Eu te amo” sem medo. A música o encanta e com a música aprendeu a encantar. “Papo ruim” não é com ele. Vive para se divertir divertindo todos aqueles que o cercam. Não faz mal a ninguém, só o bem. Blindado do capitalismo desenfreado dos dias atuais. Estresse? Só se errou a nota de uma música. Um eterno irmão mais novo. Exigindo mais atenção, nos ensinou a dar mais atenção. Ele nos faz bem.
        O Du me ensinou a ser um médico melhor. Na medicina, uma das maiores virtudes de um médico é a empatia, capacidade de compreender o sentimento ou reação da outra pessoa imaginando-se nas mesmas circunstâncias. Neste quesito o Du é doutor. Ele tem uma facilidade incomum de perceber o mais sutil dos sentimentos de uma pessoa próxima a ele. Talvez por sua pureza, sem vícios estereotipados da nossa sociedade, a captação dos sentimentos alheios torna-se mais fácil. Sempre o fez de maneira espontânea e sem esforço algum. Ficar triste perto dele é igual: “O que está acontecendo Brenão? Por que você está triste?”

         É isso aí Velhinho, sábado “tamo” fechado com o Titi no MMA!


terça-feira, 13 de março de 2012

Receita de Saúde


Ser saudável é ser feliz
Por a mão no pé sem dobrar o joelho
Fazer um esporte
Subir uma escada rápido e não bufar
Comer de tudo com educação
Subir na balança sem medo e sem susto
Rir dos insucessos
Aprender com os erros
Dormir tranquilo e acordar descansado
Ir ao banheiro diariamente
Ter um bom médico
Valorizar a prevenção
Trabalhar intensamente mas com hora para terminar
Saber gastar seu dinheiro
Brincar com seus filhos
Olhar para sua esposa todos os dias e ter orgulho
Valorizar a família
Ler um livro até o fim
Ter amigos para sair
Ter amigo de verdade
Criar casos para contar
Não fumar
Beber pouco e bem
Ir de táxi depois
Envelhecer dando exemplo
Fazer aquilo que se prega
Dar bom dia
Falar sorrindo
Cultivar o bom humor
Encarar a morte naturalmente
Viver intensamente

terça-feira, 6 de março de 2012

Jaleco Branco: O Fim da Polêmica

     Decisões tomadas sem o menor respaldo técnico ou científico estão cada vez mais comuns. A lei que proíbe o profissional de saúde de sair do ambiente hospitalar usando jaleco é o exemplo claro da total falta de preparo dos nossos representantes. Isso também não é exclusividade dos políticos e sim, da grande maioria dos nossos gestores, nas mais diversas áreas.

     A partir de um único dado, avaliado superficialmente, sem a opinião dos reais entendedores do assunto e sem um embasamento teórico mínimo, decisões são tomadas intempestivamente. Leis que ficam no papel e perdem a moral antes de chegar as ruas. Além do objetivo principal da decisão, muitas vezes desconhecido, o modo de monitorar parece ser esquecido. Analisaremos o caso do jaleco branco para acabar de vez com essa polêmica hipervalorizada pela mídia e, consequentemente, pela população.

     A lei que proíbe o uso do jaleco branco fora do ambiente hospitalar baseou-se em uma pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo que identificou a contaminação das vestimentas de 95% dos alunos (um expressivo n de 45).

    Analisando erroneamente esse resultado, de maneira superficial, tendenciosa e sensacionalista, chega-se a conclusão que é um absurdo utilizar jaleco fora do hospital. Logo, “vamos criar uma lei proibindo!”. Inocentes? Ignorantes? A toas?

      Lendo com um pouquinho de atenção, associada ao mínimo conhecimento de infectologia, conclui-se que esse resultado não pode e nem deve ser analisado dessa forma.

    Segundo o próprio estudo, mangas e bolsos foram os locais mais contaminados... BINGO! O problema não está na roupa, está nas mãos! Óbvio ululante! O que mais contamina os jalecos são as mãos dos profissionais de saúde. Mania nacional de tentar resolver o problema sem conhecê-lo. Todos sabemos que o maior causador das infecções é a má higienização das mãos. Aí sim, você começa a enxergar o verdadeiro culpado do problema. Ao invés de multar, basta educar!

     Outra discussão que deve ser levantada é a utilização da roupa branca. A tradicional vestimenta do médico estaria com seus dias contados? O branco sempre foi sinônimo de limpeza e higiene, já que evidencia qualquer sinal de sujeira. Como sou das antigas, só gosto de roupa branca e detesto jaleco, não pela contaminação, mas pelo calor. Terei que readequar meu guarda-roupa.

     Caso a população já tenha criado um asco com o jaleco branco, dificilmente iremos conseguir provar o contrário, afinal de contas, criar lendas é muito mais simples que explicar os fatos sensatamente. Infelizmente, decisões importantes ainda são tomadas sem informação confiável e embasada cientificamente. Entendi, então vamos multar quem não lavar as mãos antes e depois de manter contato com pacientes! Mais apropriado, mas inefetivo. O caminho? Exija que o profissional que irá examiná-lo, ou fazer qualquer procedimento, higienize as mãos ou utilize luvas, antes de encostar em você. É isso, menos leis e mais iniciativas!